A Pecuária na era da transformação digital

*Lucimara Chiari

A transformação digital representa a introdução de uma série de tecnologias chamadas disruptivas, ou seja, que tem a capacidade de romper com os padrões e modelos estabelecidos transformando nosso estilo de vida, tais como big datacloud computingblockchain, computação cognitiva e internet das coisas (IoT). Envolve uma mudança no comportamento das pessoas e o surgimento de um novo valor moral (a “liberdade de informação”) e possibilita o estabelecimento de parcerias e negócios por meio de novos ecossistemas e a criação de sistemas cognitivos e autônomos.

 

Na pecuária, essas tecnologias disruptivas podem ajudar o produtor rural em várias atividades do seu dia a dia, tais como controle do rebanho; manejo sanitário, reprodutivo e nutricional dos animais; produção de forragens; gerenciamento da sua fazenda e do seu negócio como um todo. Numa rápida busca, é possível encontrar várias tecnologias digitais com grande potencial de transformar completamente processos produtivos tradicionais da pecuária. Entre essas novidades estão sensores de movimento e de comportamento dos animais, chips de identificação menores e mais potentes, cochos e balanças automáticos, além de uma diversidade de aplicativos desenvolvidos para tablets e smartphones que auxiliam os produtores na tomada de decisão sob diferentes aspectos do seu negócio.

 

Neste sentido, a Embrapa, juntamente com parceiros públicos e privados, vem atuando fortemente no desenvolvimento de dispositivos de hardwares e softwares para incremento da competitividade da cadeia produtiva da carne bovina, dentro de um conceito de Pecuária de Precisão, que reune automação e tecnologias da informação e comunicação (TICs). Cito aqui alguns exemplos de sucesso desenvolvidos em cooperação pela Embrapa Gado de Corte e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS com parceiros privados:

 

– Balança de passagem: BalPass, sistema automático de pesagem em campo com envio remoto de dados que possibilita ao produtor o acompanhamento da curva de ganho de peso dos animais. A BalPass foi desenvolvida numa cooperação entre Embrapa Gado de Corte, UFMS e COIMMA.

 

– BEP – Bovine Electronic Plataform, plataforma eletrônica que possibilita o monitoramento da saúde e bem-estar de bovinos nos diversos sistemas de produção. A BEP é constituída por um dispositivo vestível (não invasivo), um tablet ou smartphone e uma plataforma web. Foi desenvolvida numa cooperação pela Embrapa Gado de Corte, UFMS e a startup Indext.

 

Vários aplicativos também foram desenvolvidos no âmbito da parceria entre a Embrapa Gado de Corte e a UFMS, tais como o $uplementa Certo, Pasto Certo, Cria Certo, CustoBov, GerenPec e ControlPec. Todos esses aplicativos estão disponíveis no Google Play para equipamentos com sistema operacional Android e alguns deles também estão disponíveis para iPhones e iPads na Apple Store.

 

Mais recentemente, a Embrapa Gado de Corte e UFMS trabalham juntas num conceito que vai além do desenvolvimento de TICs, o “Smart Livestock: Ecossistema Digital da Pecuária” que visa viabilizar e integrar soluções digitais por meio da articulação com parceiros da iniciativa pública e privada, fomentando a criação de negócios para a verdadeira transformação digital da pecuária. Os desafios inerentes ao conceito de Smart Livestock incluem a necessidade de adequar novos processos de negócio para possibilitar desenvolver soluções de TI em parceria com a iniciativa privada e transferi-las com a agilidade e a eficiência do mercado de vanguarda tecnológica. Para saber mais acesse: https://project.cnpgc.embrapa.br/marketplace/about/

 

Esses são apenas alguns exemplos “de casa”, mas existem muitas outras tecnologias que estão levando a transformação digital à pecuária e empoderando cada vez mais as pessoas dentro das fazendas, possibilitando que elas tomem decisões mais assertivas.

 

Entretanto, ainda há muitos desafios a vencer para a verdadeira transformação digital da pecuária e que vão além daqueles inerentes a qualquer outra tecnologia, como robustez e custo de desenvolvimento, mas também aqueles relacionados à conectividade no meio rural. O que eu quero dizer com isto é que, para o uso adequado dessas tecnologias, os produtores precisarão de uma conectividade maior que a que temos hoje na grande maioria das áreas rurais do país, para possibilitar o envio de um grande volume de dados para os processadores e assim obter as respostas em tempo real para a sua tomada de decisão. Iniciativas do Governo Federal junto à iniciativa privada já estão em curso, mas ainda é difícil prever quando teremos as fazendas digitais no Brasil.

 

* Chefe Adjunta de Pesquisa

FONTE: EMBRAPA GADO DE CORTE

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