Práticas agroflorestais em MS gera produção sem desmatamento

A sabedoria popular diz que uma pessoa só se torna completa quando planta uma árvore, cria um filho e escreve um livro. No assentamento Itamarati, um dos maiores do Brasil, esse ciclo vem sendo escrito por 70 famílias de agricultores, não em páginas brancas, mas com folhas verdes, mudas de árvores que vem sendo replantadas através do sistema agroflorestal. Uma prática que associa o reflorestamento às atividades agrícolas e, consequentemente, à geração de renda e melhoria no sustento da porteira para dentro.

 

No sítio do casal de agricultores familiares, Elmo Côrrea e Márcia Teixeira, o sistema agroflorestal tem sido adotado há oito anos para recuperação de uma área de 13 hectares. Um imóvel rural que neste “Dia mundial das florestas e árvores” – 21 de março – comprova que é possível associar agricultura a preservação ambiental, uma vez que são as árvores as maiores aliadas no controle do microclima, qualidade do ar e preservação do solo.

 

 Elmo Correa acompanhado do técnico da Agraer, Edson Mondadori.

“Nos fundos da propriedade tem uma mata nativa em que passa um rio. Mas, desde 2010 a gente entrou em um projeto ambiental. A gente fez o plantio de duas mil mudas de árvores e outras duas mil mudas de eucalipto. Os eucaliptos a gente pode fazer o corte e comercializar”, conta o agricultor.

 

Em contrapartida, as árvores nativas crescem livremente gerando sombra, combatendo a degradação e erosões de terras e presenteando as famílias ao entorno com o canto dos pássaros. “Se todos fizessem isso seria muito bom. Acho que falta conscientização. O clima está mais fresco, o aroma mais agradável, a gente já vê os passarinhos, tem vida”, diz o agricultor que complementa, “Na nossa propriedade a renda principal vem do leite e da venda e revenda de gados de leite dentro do Pronaf. Só que a gente sabe que quando precisar pode fazer o corte dos eucaliptos. Sem contar que é um trabalho que muda a cara do lugar. Quando a gente pegou estava só no capim braquiária”.

 

Além da área de reserva legal que o casal formou há também uma área de quatro hectares que faz fundo com o sítio, a chamada Área de Preservação Permanente (APP). Para as atividades de pastoreio foram reservadas 16 hectares de terra. “A gente quis fazer só o plantio de eucalipto, pois só mexemos com o leite que nos toma muito tempo. Escolhemos plantar eucalipto junto com as mudas nativas, mas em outros sítios houve o plantio de feijão, mandioca, hortaliças”, conta Elmo.

 

Arthur Marques acompanhado por um agricultor familiar.

Um trabalho de sistema agroflorestal implantado e assistido pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), com parceria da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer) para o monitoramento do desenvolvimento das plantas através da assistência técnica.

 

“A maior parte dos agricultores plantou milho, soja e mandioca entre as linhas de árvores, mas tem agricultor que instalou caixas de abelhas, outros fizeram o plantio hortaliças, gergelin, melancia, entre outras. O sistema agroflorestal permite uma ampla opção de cultivo. É uma forma de visualizar condições de recuperação da natureza e dar ao parceleiro condições economicamente interessantes”, observa o engenheiro agrônomo da Agraer, Edson Mondadori, que faz o acompanhamento junto aos produtores.

 

“Este é um projeto piloto, tem caráter experimental, mas, mesmo assim já conseguimos recuperar áreas que eram de pastos degradados, inclusive, com voçorocas, erosões. Calculamos que no assentamento Itamarati exista 100 hectares em recuperação. Um valor que parece pequeno, mas que tem sua importância ambiental e que agrega valor social junto as extensões de APP”, enfatiza o coordenador do projeto pelo Incra, Arthur Marques.

 

Valores ambientais praticados, no assentamento Itamarati, que podem servir de modelo para outros imóveis rurais, sejam de grande, médio ou pequeno porte. “Acredito que a agricultura familiar tem um olhar bom. Os grandes produtores deveriam aprender com a gente, porque não é só usar agrotóxico e ter grandes áreas de plantio. Não se pode pensar em só fazer derrubada. Uma hora a natureza cobra”, enfatiza o agricultor.

 

Sistema agroflorestal: é uma forma de uso ou manejo da terra, nos quais se combinam espécies arbóreas (frutíferas e/ou madeireiras) com cultivos agrícolas e/ou criação de animais, de forma simultânea

 

E é por pensar nessa fatura ambiental que pode chegar às futuras gerações que o poder público criou o Cadastro Ambiental Rural (CAR), uma obrigatoriedade prevista dentro do Código Florestal, com a finalidade de integrar informações sobre as áreas de matas e florestas, inclusive, as de reflorestamento como as existentes no assentamento Itamarati.

 

Em todo o Brasil, o agricultor (pequeno, médio ou grande) tem de fazer o cadastro. O prazo para registro já está se esgotando. A data limite é o dia 31 de maio. Até o momento Mato Grosso do Sul está com 61 mil propriedades rurais cadastradas. A meta é ter o registro de 80 mil imóveis.

 

Assim como o projeto no Itamarati visa o convívio do homem com a natureza e a preservação ou recuperação dos recursos naturais, o CAR compartilha de um objetivo similar visto que ele é uma ferramenta estratégica de dados para o controle, monitoramento o combate ao desmatamento das florestas e matas, bem como demais formas de vegetação nativa no Brasil, pensando, ainda, no planejamento ambiental e econômico dos imóveis rurais.

 

Os agricultores familiares que tiverem dúvidas sobre como fazer o CAR podem buscar o escritório da Agraer mais próximo para esclarecimento ou buscar o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro) pelo telefone de contato (67) 3318-6010 / 6060. Médios e grandes produtores devem se encaminhar diretamente ao órgão ambiental.

 

Calendário

 

Diante da importância indiscutível das árvores surgiu no ano de 1971, o Dia Mundial das Matas e Florestas ou Dia Internacional das Florestas, que é comemorado em 21 de março. A data foi criada para fazer a alusão da importância das árvores em virtude da quantidade de emissão de poluentes no ar, gás carbônico, do aquecimento global e também do agronegócio que fazem uso de grandes extensões de terras e, por vezes, de um volume considerável de agrotóxicos.

 

Texto: Aline Lira (Agrer)

MS, BRASIL E MUNDO