Ciência é a chave para domesticar a guavira, diz coordenadora de pesquisa da fruta

 

Plantas também precisam ser domesticadas. O termo pode até parecer estranho para quem não está acostumado a ouvi-lo nesse contexto, mas assim como os animais, os vegetais que brotam espontaneamente na natureza precisam ser adaptados para serem cultivados intencionalmente pelo homem, normalmente para uso comercial. É o caso da guavira.

 

Todo sul-mato-grossense sabe, ou deveria saber, a respeito da existência dessa fruta pequena, redonda e cuja cor varia do verde ao amarelo dependendo do estágio de amadurecimento.

 

Goste ou não do sabor, quem nunca ouviu a expressão “catar guavira”. Além disso, por ter caído nas graças da cultura popular acabou se tornando símbolo estadual.

 

A questão é que a fruta tem potencial para ser produzida e comercializada pela agricultura familiar, mas para que isso aconteça efetivamente, é necessário estudo agronômico, como fenologia, desenvolvimento, produtividade, ocorrência de pragas e doenças, arranjos e densidade de plantas, entre outros.

 

Por isso, o Centro de Pesquisa e Capacitação da Agraer (Cepaer) realiza, há dez anos, pesquisa sobre o cultivo da guavira.

 

Financiado pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul (Fundect), um estudo pretende avançar nesse tema avaliando a possibilidade de cultivo da guavira consorciada com pastagem com entrada de animais e o desenvolvimento de um protocolo de reprodução vegetativa.

 

Quem coordena esse trabalho é a engenheira agrônoma, doutora em Agronomia e pesquisadora do Cepaer, Ana Cristina Ajalla.

 

“Entendemos que os agricultores familiares necessitam de novas opções para gerar renda e explorar espécies nativas, como a guavira, é muito interessante para o púbico alvo da Agraer”, afirma.

 

Ao longo da última década, explica, o Cepaer já avançou muito no processo de domesticação da planta, como o desenvolvimento de produção de mudas a partir de sementes, dados de produtividade média, densidade de plantas, consórcio com adubos verdes e fenologia reprodutiva.

 

“Desta vez, nós queremos dizer ao produtor, entre outras coisas, se ele pode e como pode plantar a guavira junto com a pecuária”, explica.

 

Como será?

 

Duas áreas experimentais serão utilizadas para comparar o desenvolvimento dos pés de guavira com e sem contato com bovinos do rebanho leiteiro do próprio Cepaer.

 

Entre as linhas das árvores serão plantadas forrageiras para servir como pasto. Na área consorciada, os animais serão colocados até o momento em que a guavira começar a florescer.

 

Ao término da colheita, a forrageira e as plantas de guavira nos dois espaços serão comparados quanto à altura, porcentagem de plantas mortas, produtividade média, entre outras coisas.

 

Na segunda frente de estudos, plantas com pelo menos uma década e dois metros de altura serão podados e os brotos serão coletados para a produção de estacas.

 

Serão aplicados diversos tipos de produtos que favorecem o enraizamento na tentativa estabelecer metodologia para fazer mudas a partir dos ramos da planta, chamada de propagação vegetativa ou assexuada.  “Os resultados são importantes para a seleção de plantas mais produtivas, por exemplo”.

 

Também haverá o teste com vários tipos de substratos e temperaturas para avaliar as melhores condições de tratamento das mudas.

 

“Dessa forma, acreditamos que a pesquisa vai preencher lacunas importantes e somar ao conhecimento gerado até aqui a respeito da guavira”, completa.

 

Cultura

 

A unidade de pesquisa de guavira do Cepaer é referência estadual. Ao longo do ano, especialmente no período de colheita, o espaço recebe a visita de alunos de escolas que aprendem a respeito desse histórico cultural da fruta e ainda têm a oportunidade de colher alguns exemplares.

 

Além disso, também são fornecidas mudas para serem plantadas nos estabelecimentos de ensino voltadas à projetos de educação ambiental que professores desenvolvem com seus alunos.

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